Minha mãe dizia que existem três coisas horríveis que
podemos sentir pelas pessoas: Raiva, nojo e pena, e três
coisas horríveis que podem fazer conosco: Mentir, trair e partir. E
eu estou te encaixando em todas elas, sem metáforas ou poupar palavras, tenho
raiva de como usa a desculpa de não prestar pra machucar as pessoas, não
qualquer pessoa e sim a única que aceitava seu jeito que estava disposta a
arriscar e você jogou fora porque é mais fácil não se envolver, do que tem medo
afinal? De ser abandonado, de admitir que alguém possa te tocar e ferir faz
parte da vida é um risco a se correr cada vez que conhecemos uma pessoa, tenho nojo das tuas mãos que já tocaram nas minhas, da tua voz que me
prometeu o que estava tramando a quebrar, nojo do abraço que me deu aquele dia
e de como não se importaria de ser de outro alguém aonde fui sua, e pena, de
como um dia ter todas não vai bastar, beber, fumar e todas as tuas manias
erradas que eu aguentava, um dia não vão suprir a falta de ter um ombro pra
se encostar e todas que você magoou vão ter alguém, vão
ter te apagado da história delas, e teus amigos vão ter alguém e você
estará só por que até a garota que você dizia gostar te deixou até ela cansou
de aguentar sua pose de indestrutível, pena de quando perceber que não
importa com quantas você ficou em um final de semana e sim com quem você passou
a segunda-feira.
Mas eu gostei de você, aturei quando você ia e não dizia
se voltava, fiz carinho quando estava cansado do trabalho, escutei as
reclamações sobre sua irmã mais nova, me importei quando disse que estava mal e
te mandei estudar, arranquei sorrisos seus e fiz piada sobre seus gostos,
abusei da minha ironia e deixei você tira sarro do meu desastre, descobri as
suas brincadeiras com a sua mãe e fiz parte delas, perdi horas deitada na sua
cama, conheci o jeito que gostava que seu travesseiro ficasse, conhecia tuas
camisas de ficar em casa e teu perfume quase vazio no canto da cômoda, e eu
gostava de fazer parte do seu mundo, o longe das festas e das bebidas, gostava
de quando segurava minha mão pra descer a escada e do dia que a manchei horas
depois do marido da sua mãe ter a pintado, me contou sua história, da sua bagunça e do seu boletim
que por mais bizarro que fosse só havia notas boas, eu vi os desenhos da parede
do teu quarto, gostava das brigas pra escolher o canal e de quando me levava no
ponto e pedia pra eu me cuidar, de como brincava com meu cabelo, e hoje tudo
parece mentira, parece que eram só falas que ensaiava só passos ensaiados, todas
as tardes não passaram de brincadeira e aquela pessoa que eu descobri era
fingimento também, por que você nunca falou comigo daquele jeito, nunca foi
frio, canalha e nem algo assim, e quando vi você dizendo aquelas coisas pra
ela, me perguntei qual era a diferença comigo, por que sempre foi mais doce
comigo, mas não, você nunca gostou, e jamais te obrigaria a gostar, não seria
culpa sua que o efeito que provocava em mim, eu não provocava em você e mesmo
que um dia cada um seguisse seu caminho, e aqueles abraços parassem, aqueles
dias de janelas fechadas e luzes apagadas acabassem, haveria pelo menos
amizade, haveria uma parte minha que sempre iria querer você por perto, pra me
perguntar se quero colo, ou me fazer rir com algumas das tuas cantadas
péssimas, e agora só o que sobrou é uma magoa escondida.
Você mentiu, prometeu pra mim que nunca faria e fez, e não é
questão de gostar ou amar, e sim de consideração, é questão de ter no mínimo
pensando nas vezes que me pediu pra ir te ver e fui às noites que me ligou e me
fez conversar a madrugada toda e eu fiquei sem me importar se teria que acordar
cedo no outro dia, dos segredos que compartilhamos, mas foi importante só pra
mim hoje vejo isso, que estavam certos, que nunca daria em nada, só tinha
esperanças que fosse mentira quando me disseram que você não prestava, esperanças que houvesse algo em mim que te fizesse pensar três vezes antes de
magoar, e me diz se não havia nada dentro de ti, por que sorria como se eu
fosse a sua pessoa preferida no mundo, por que segurava minha mão como se
tivesse medo de me perder, por que me tratava como alguém especial, por que
reclamava quando não te ligava, era só comodismo de ter alguém que sempre faria
de tudo por você?
Já fez tudo pra me ferir, só falta partir não dos meus dias, isso
é fácil afinal não se importa com ninguém além de si mesmo, mas quero que parta
de dentro de mim, das minhas memórias, das minhas músicas favoritas, dos meus
lugares e dos meus textos, que seu número pare de passar pela minha cabeça e
que não queira disca-lo a cada segundo, que pare com a confusão que causa em
mim. Queria não procurar seu cheiro em cada pessoa, conseguir olhar em outros
olhos e não imaginar os teus olhos pequenos quando rir vê outros sorrisos e não
lembrar aquele teu de canto, sentir outros carinhos e não comparar aos teus,
queria só ser a mesma de seis meses trás, voltar naquela sexta-feira e não me
encantar, não te adicionar, ou cortar o assunto quando me mandou aquela
piadinha, não ter respondido suas mensagens e não ter te atendido naquele dia,
queria não tá escrevendo isso parecendo uma daquelas meninas que sempre
debochei, arrasada por quem não merece uma noite de insônia. E quer saber a
pior parte, não sinto um fim, sinto que conseguiria perdoar e me jogar pra você
de novo e ao mesmo tempo outra parte minha, sente enjoo só de pensar em te
ver, náuseas do teu texto ensaiado, da sua mascara de bonzinho e
do se tom sarcástico, de pensar que tua boca pode ter se encostado à dela e que
pode estar dizendo a ela a mesmas coisas que disse a mim, e a pior coisa é
quando do gostar só sobra essa sensação de desprezo, amor é egoísta não aceita
virar algo menos, que nem você que não aceita ser de alguém.
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