segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Bagunçada e solitária.

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Estou encarado seu casaco que deixou aquela sua blusa que já é minha, e aquele teu relógio, suas coisas estão espalhadas pela minha bagunça, com seu cheiro, seus costumes tudo empregado perto de mim, não tem como te deixar partir. Seus cigarros jogados no canto da prateleira lembram-me das guerras pra você larga-los e hoje estão eles solitários e isso não me conforta, por que até aquela sua fumaça seria mais confortante, do que o vazio. O silêncio faz eco, a janela fechada como naquelas tardes sem ver o mundo lá fora, sua risada de vez em quando ganha do silencio e se estabelece no canto mais escuro do quarto, posso até ver teu sorriso de canto pra termina-la, o celular avisa que tem mensagens novas, alguém bate na porta querendo saber como estou, digo que vazia e cheia, então digamos pela metade quase vazia de esperanças e quase cheia da falta. Ainda posso escutar o som do teu carro indo embora, e da tua voz que media as palavras pra não ser mais doloroso, como se houvesse um modo disto não ocorrer.

A cama continua bagunçada, com todos os registros da ultima noite sentindo teus carinhos, você se foi de manhã, calçou aqueles seus tênis que nunca gostei pôs aquela sua blusa do nosso sexto encontro, passou uma mão no cabelo me deu um beijo e me olhou, sabia que aquilo ali era uma despedida, estava ali em cada parede daquele quarto que tinha chego a hora do adeus, sorri querendo mostrar que entendia o porquê da partida, mas queria mesmo era te abraçar, deitar minha cabeça no teu peito e te pedir baixinho “Fica, por favor, não vai”. Correr atrás, te parar no corredor, olhar no fundo dos teus olhos castanhos puxados para o verde, e decorar cada traço teu, te beijar como naquele filme de romance, segurar tua mão e pedir pra tentarmos novamente, reconstruir os cacos, juntas as migalhas...

Desfaça as malas, joga tua bagunça em cima da minha, põe teus pés pra cima, se acomode aqui e fique. Deixou algumas roupas, e seus velhos vícios talvez pra me lembrar de que uma parte tua está me rodeando, me prendendo ou talvez seja algum tipo de tortura, que sempre achou legal, a música que toca na minha cabeça é a da primeira vez que nos vimos então me sento na beira da cama olho para o lado que ocupou nas ultimas horas, onde está agora, além das fotos espalhadas e do armário quase vazio? Pego sua blusa, que me serve de pijama, me deito na cama e encaro o teto, a gente pensava em se casar, ou eu pensava em me casar, você estava mais pra rodar o mundo talvez seja isso que esteja fazendo agora, sabíamos que não ia durar, mas é como a chuva no fim de uma tarde de verão, a gente nunca quer que ela venha, mas sabemos que ela estará pontualmente tirando as estrelas do céu, como agora encarando o nada, sem brilho algum, mas a chuva que ocorre aqui dentro de mim não passara dentro de meia hora.

Tenho que desfazer a bagunça, devolver seu relógio e seu casaco, deixar sua blusa no fundo da gaveta, sair do meio e virar a direita, ou esquerda qualquer uma onde cada passo não me lembre de seu assobio, ou da sua voz sussurrando meu nome, encher ou esvaziar o copo de vez, abrir a porta e olhar para o corredor sabendo que nunca mais o cruzara, mas por enquanto quero ficar aqui, encolhida na minha própria melancolia, satirizando meu próprio drama, um dia vou abrir a porta e viver, mas agora só quero uma vez na vida sentir uma dor, sem precisar escondê-la. Deixa mensagem na caixa de entrada, as cartas jogadas no sofá, as perguntas pra depois, deixa a minha bagunça nela me acho, ou me perco de vez... Deixe-me sentir o tempo curar, teu cheiro sair, tua risada se calar, me deixa no meu canto, sem encanto, me curando, me enchendo, me transbordando quando estiver pronta pra jogar tudo fora, aviso.

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