A cama
continua bagunçada, com todos os registros da ultima noite sentindo teus
carinhos, você se foi de manhã, calçou aqueles seus tênis que nunca gostei pôs
aquela sua blusa do nosso sexto encontro, passou uma mão no cabelo me deu um
beijo e me olhou, sabia que aquilo ali era uma despedida, estava ali em cada
parede daquele quarto que tinha chego a hora do adeus, sorri querendo mostrar
que entendia o porquê da partida, mas queria mesmo era te abraçar, deitar minha
cabeça no teu peito e te pedir baixinho “Fica, por favor, não vai”. Correr
atrás, te parar no corredor, olhar no fundo dos teus olhos castanhos puxados
para o verde, e decorar cada traço teu, te beijar como naquele filme de
romance, segurar tua mão e pedir pra tentarmos novamente, reconstruir os cacos,
juntas as migalhas...
Desfaça as malas, joga tua bagunça em cima da minha, põe
teus pés pra cima, se acomode aqui e fique. Deixou algumas roupas, e seus velhos
vícios talvez pra me lembrar de que uma parte tua está me rodeando, me
prendendo ou talvez seja algum tipo de tortura, que sempre achou legal, a
música que toca na minha cabeça é a da primeira vez que nos vimos então me
sento na beira da cama olho para o lado que ocupou nas ultimas horas, onde está
agora, além das fotos espalhadas e do armário quase vazio? Pego sua blusa, que
me serve de pijama, me deito na cama e encaro o teto, a gente pensava em se
casar, ou eu pensava em me casar, você estava mais pra rodar o mundo talvez
seja isso que esteja fazendo agora, sabíamos que não ia durar, mas é como a
chuva no fim de uma tarde de verão, a gente nunca quer que ela venha, mas
sabemos que ela estará pontualmente tirando as estrelas do céu, como agora
encarando o nada, sem brilho algum, mas a chuva que ocorre aqui dentro de mim
não passara dentro de meia hora.
Tenho que desfazer a bagunça, devolver seu
relógio e seu casaco, deixar sua blusa no fundo da gaveta, sair do meio e virar
a direita, ou esquerda qualquer uma onde cada passo não me lembre de seu
assobio, ou da sua voz sussurrando meu nome, encher ou esvaziar o copo de vez,
abrir a porta e olhar para o corredor sabendo que nunca mais o cruzara, mas por
enquanto quero ficar aqui, encolhida na minha própria melancolia, satirizando
meu próprio drama, um dia vou abrir a porta e viver, mas agora só quero uma vez
na vida sentir uma dor, sem precisar escondê-la. Deixa mensagem na caixa de
entrada, as cartas jogadas no sofá, as perguntas pra depois, deixa a minha
bagunça nela me acho, ou me perco de vez... Deixe-me sentir o tempo curar, teu
cheiro sair, tua risada se calar, me deixa no meu canto, sem encanto, me
curando, me enchendo, me transbordando quando estiver pronta pra jogar tudo
fora, aviso.
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