quarta-feira, 11 de setembro de 2013


Sábado a noite.

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Olha para nós aqui, um ano depois, ainda nos evitando em locais públicos. Passei a beber mais porque até o gosto amargo de qualquer bebida, é mais suave do que quando fingi que não sabe de mim mais do que qualquer outro. E você acende esse cigarro pra esquentar teu coração de pedra e teu corpo que longe do meu congela. Juro para aquela não mais tão amiga como quando nos conhecemos, que já não dói fingir que não sei de ti, mas dói e tá estampado até naquela marquinha que tenho na coxa direita daquele tombo que levei indo te ver, aí tento olhar pro cara na minha frente e até me convenço que ele é bonito, mas perco os olhos em você e me pergunto se por trás daqueles óculos e da luz fluorescente que gira por tudo tu não está me olhando, desejando pra que eu não ache os olhos dele tão penetrantes quanto os seus, e quase são, quase porque tu tá ali a cinco passos de distância e simplesmente não posso achar alguém tão misterioso quando você tá dando aquele teu sorriso de lado e fazendo aquela cara de "não-presto-mas-sei-que-tu-gosta-assim", falo uma daquelas ironias, levanto dali com aquelas pessoas tão perdidas quanto você, acho que meio faço parte do teu mundo, meio porque nunca vou entender como quase por estomago pra fora é divertido em um sábado a noite, nós rimos do cara apagado deitado de conchinha na escada, não olho pro lado, mas alguma coisa diz que teus olhos caíram sobre mim, gostou da calça, da blusa, do cabelo e da unha pintada da tua cor favorita? Disfarça que hoje, só hoje não vou te dar meu sorriso envergonhado, porque hoje nós não conhecemos. Mais um copo de algo que o barman que dá em cima de mim me serve to sendo simpática com gente que nem conheço e me sentindo confortável com essas músicas pesadas.

Perguntam-me como me sinto sobre nós, e eu não sinto nada, não hoje. Mas amanhã, ah eu vou sentir um nó na minha garganta, e vou quase morrer sufocada com essa tua indiferença, vou correr pros braços da amiga mais próxima e amaldiçoar até sua quinta geração e por fim vou admitir que te amo mais do que imaginei que pudesse. Por que quando tu me encontraste eu era orgulhosa e hoje virei um montinho de expectativas que tu quase nunca corresponde, sou exatamente aquilo que jurei naquela noite de sexta que nunca seria. 

Mas isso é pra depois, pra quando voltar ao meu estado normal, quando parar de achar graça nesse monte de pessoas que nunca vi, quando não achar ridícula essa tua blusa e seus amigos totalmente esquisitos, agora não, agora só quero fazer parte dessa tal galera descolada, como todas as outras garotas por quem você se apaixonou, pra vê se sente o mesmo por mim, isso é quase mendigar amor, mas olhe pra nós não é isso que estamos fazendo fingindo que esquecemos aqueles domingos? Não é isso que fazemos, mendigamos nossos próprios carinhos e depois dizemos que não aceitamos esmola, quando tudo que passamos são migalhas jogadas ao chão. Nós somos isso, esse quase aconteceu.

Temos que fingir que somos estranhos aos olhos um do outro, por mais que isso quebre cada osso, hoje sou só a garota rindo alto e zanzando de um lado pro outro dessa festa e você é só o cara estranho no canto. Mas jura pra mim que ainda posso ser a que deita na tua cama te conta os medos e ri do teu sarcasmo. Jura, mas não hoje por que é sábado e tudo que quero é viver.


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